Fonte do Ídolo

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Num quintal chamado “O quintal do Ídolo” ou (em pronuncia minhota) do Idro, situado entre as ruas do Raio e de S. Lázaro, perto da Igreja de S. João Marcos e do Convento dos Remédios, na cidade de Braga, Bracara dives, existe um monumento religioso muito notável, que, conquanto, no estado actual, date da época romana, tem as suas origens em tempos anteriores. Este monumento consiste em uma pedra grande em rocha viva com inscrições latinas e esculturas. Na base está uma fonte funda, com seu tanque.

Na parte oriental da cidade de Bracara Augusta, a actual Braga, na proximidade de uma zona de necrópoles, existe um importante santuário, a “Fonte do Ídolo”, erigido na época romana. Em grande parte preservado, este santuário é hoje acessível a partir da Rua do Raio, através de uma escadaria que desce para o nível antigo. O monumento foi esculpido na extremidade de um grande bloco de granito, com aproximadamente três metros de comprimento por metro e meio de altura. Ao pé do bloco, sob um nicho, irrompe uma nascente que corre através de um canal aberto na rocha. Na sua origem, a frágua de granito deveria ser mais alta, porquanto o texto gravado do lado esquerdo e a parte superior da escultura foram mutilados, conservando-se as marcas de talhe que afectaram o monumento.

© José Leite de Vasconcelos. In As Religiões da Lusitânia, Volume II. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1905.


O monumento foi concebido em duas partes principais:

  • Do lado esquerdo, está representada uma grande estátua, de 1,10m de altura, em muito mau estado de conservação. Figura um personagem trajado com uma longa veste drapeada muito envolvente; esta apresenta, à direita, uma série de pesadas pregas que podem pertencer a um outro tipo de roupagem. A parte superior da estátua está fragmentada e a cabeça quase desapareceu por completo; o que subsiste não permite afirmar, com segurança se trata de um homem ou de uma mulher. As descrições feitas por Contador de Argote, no século XVIII, fazem supor que nessa época o monumento se encontrava em melhor estado, percebendo-se então os vestígios de rosto barbado (Contador de Argote, 1732, p. 261-262).
  • O lado direito da face esculpida organiza-se em torno de um nicho rectangular encimado por frontão, reproduzindo assim a fachada de um templo. Sob esta edícula correm as águas brotantes. O interior do nicho contém o busto de um jovem, ligeiramente descentrado à direita para deixar espaço a uma inscrição, a qual se prolonga por baixo do próprio nicho e recorda o nome do autor do monumento:
    • (no nicho): CELICVS FECIT
    • (por baixo): FRO [NTO]

O frontão apresenta decoração em relevo: uma pomba, virada para a direita, face a um objecto que aparenta ser um maço.

© Alain Tranoy. In Religiões da Lusitânia. Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia, 2002.


Monumento bracarense chamado da Fonte do Ídolo (Religiões da Lusitânia, II, p. 248) consagrado ou concebido por uma pessoa com nome romanizado ao deus Tongoe Nabiago, relacionado com uma fonte. Os autores, entre os quais Leite de Vasconcelos, explanam longa e sabiamente sobre a natureza “celta” do monumento. Por outro lado, aquele autor relaciona o nome Tongoe com outros, nomeadamente Tonge-Tamus, “nome de homem que aparece em inscrições na Beira Baixa” (Ibid., p. 254). De facto, Tonge, Tongoe são formas de “Thamuze” (através da variante Tamugos), donde derivou Tagus, Nabiago equivale ao hebr. le-hagbiah [agbiag], “elevar-se acima dos outros”. O monumento de Braga não foi “celta”, mas fenício, em honra de Tam (u)go-o-Altissimo, como diríamos hoje. É a personagem que está representada no nicho, ao lado da dedicação. Repare-se na semelhança com a figura do nicho da estrela cartaginesa, ambas com o símbolo da pomba. “altíssimo”, “Augusto”, “Sublime” eram alguns dos títulos de Thamuze.”

© Moisés Espírito Santo. In As Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa. Assírio e Alvim, 1988.


Tendo-me o Sr. Domingos Rebello Barbosa, desenhador de 1ª classe, em serviço na Direcção das Obras Publicas do districto de Braga, mandado, por intermedio do Sr. Dr. José Machado, em 1895, um desenho que eu lhe havia pedido do monumento (constitue a estampa junta), vi que não só se copiava nelle mais uma inscripção, FRONT, que os limos haviam antes encoberto, mas (e aqui foi grande a minha surpresa!) que adeante do o de NABIAGO havia uma especie dei, que eu não tinha observado quando examinei a pedra em 1894.

© Vasconcelos, Leite J. In Religiões da Lusitânia. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Outubro de 1809, Lisboa.